domingo, 19 de setembro de 2010

"Depois de morto, falarei como vivo!"

Vou falar do meu ofício não como mestre, mas como aquele
que faz versos. O meu artigo não tem nenhum  significado teórico. Falo do meu trabalho, que, no fundo, segundo as minhas observações e a minha convicção, pouco se distingue do trabalho de outros poetas profissionais. Uma vez mais repito categoricamente: não forneço qualquer regra capaz de transformar um homem em poeta e de o levar a escrever versos. Poeta é justamente o homem que cria as regras poéticas.”
“A minha atividade literária desses vinte anos converteu-se, essencialmente, para falar com toda a franqueza, num bofetão literário no seu melhor sentido.”
“Em toda a minha vida nunca trabalhei para fazer concessões, ao contrário, tudo em mim se organizou de maneira a desagradar a todos.”
“Os chefes de redação sabem apenas dizer isto agrada-me ou isto não me agrada, esquecendo que o gosto é uma coisa que pode desenvolver-se. Quase todos os chefes de redação me confessaram que não ousam devolver os manuscritos dos poemas por não saberem o que dizer.”
“Digo-vos com franqueza: nunca soube distinguir os iambos dos coreus, nem tenciono distinguí-los. Não por se tratar de um assunto muito difícil, mas porque no meu trabalho de poeta nunca tive necessidade de recorrer a esses truques.”
“Penso, mais de uma vez: seria melhor talvez pôr-me o ponto final de um balaço. Em todo o caso eu hoje vou dar meu concerto de adeus...Executarei meus versos na flauta de minhas próprias vértebras.”
“Nenhum clássico conserva para sempre o seu caráter de vanguarda. Estudai-os e amai-os na época em que viveram. Mas que não venham com o seu enorme traseiro de bronze impedir passagem aos jovens poetas que hoje iniciam o seu caminho. Não digo apenas por mim, mas por milhares de poetas oriundos da classe operária.”
“Li para ele (Gorki) partes do poema Uma nuvem de calças. Num repente de sensibilidade, cobriu-me de lágrimas todo o colete. Comovera-o com os meus versos. Fiquei um tanto orgulhoso. Pouco depois, tornou-se claro que ele chorava em todo colete de poeta.”
“Berliuk me fez poeta. Lia-me franceses e alemães.Empurrava-me livros. Andando, falava sem parar. Não me soltava um instante sequer. Dava-me cinquenta copeques por dia. Para que escrevesse sem passar fome.”
“Não existe obra de arte que me tenha entusiasmado mais do que o Prefácio de Marx.”
“E vocë? Poderia algum dia tocar um noturno louco na flauta dos esgotos?”
“Nesta vida morrer não é difícil. O difícil é a vida e seu ofício.”
“Morre meu verso como um soldado anônimo na lufada do assalto. Cuspo sobre o bronze pesadíssimo, cuspo sobre o mármore viscoso. Partilhemos a glória, entre nós todos, o comum monumento: o socialismo, forjado na refrega e no fogo.”
“Os versos para mim não deram rublos, nem mobílias de madeiras
caras. Uma camisa lavada e clara, e basta,--para mim é tudo. Ao comitê central do futuro ofuscante sobre a malta dos vates velhacos e falsários, apresento em lugar do registro partidário todos os cem tomos dos meus livros militantes.”
“O mar se vai o mar do sono se esvai. Como se diz: o caso está encerrado. A canoa do amor se quebrou no quotidiano. Estamos quites. Inútil o apanhado da mútua dor mútua quota de dano.”


V. Maiakovski

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